Jovem senhora de 60 anos, ativa, prestes a ser avó pela primeira vez faz seus exames ginecológicos anualmente e na última consulta com sua ginecologista a pressão estava 150/90mmHg. Ela fica um pouco assustada, diz que está prestes a ser avó e está passando por um momento de ansiedade desde que o filho mais novo se casou.

Você se identifica com esse caso, que apesar de ser inventado é baseado em histórias bastante comuns no consultório cardiológico?

Talvez você tenha se identificado com partes da história e está preocupado com um início de hipertensão arterial. Eu entendo a sua preocupação. O diagnóstico de hipertensão é cheio de mitos como: “Vou ter que tomar remédio para a vida inteira”; “sou hipertenso, agora sou um cardiopata”, etc. A verdade é que talvez você tenha que tomar medicamento para controle da pressão, mas ele pode ser facilmente inserido na sua rotina diária e você poderá até esquecer que tem algum problema de saúde. Como assim? Tudo começa com a mudança na nossa forma de enxergar a hipertensão arterial.

Pressão alta é a partir de quanto?

A pressão arterial normal é a pressão arterial sistólica – PAS (chamada de máxima) até 120mmHg ou 12cmHg. E a pressão arterial diastólica – PAD (chamada de mínima) de até 80mmHg.

A hipertensão é definida quando a PAS se encontra acima 140mmHg ou 14cmHg e/ou a PAD acima de 90mmHg ou 9cmHg.

Os valores de pressão arterial entre 120 e 140 na PAS e 80 e 90 da PAD são classificados de forma diferente entre as diretrizes americana e brasileira de hipertensão arterial. Na tabela abaixo está a classificação da hipertensão arterial, utilizada pela Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial de 2021 elaborada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Se houver diferença de categoria entre as pressões sistólica e diastólica classificamos de acordo com o valor mais alto. A classificação deve ser aplicada em pessoas que ainda não utilizam medicamento para pressão. Quem já utiliza remédio para pressão é considerado “hipertenso tratado “e deve estar com as medidas da pressão controlada.

Sendo assim, para definir o diagnóstico de hipertensão arterial são necessárias algumas medidas da pressão arterial, com a técnica adequada. Numa consulta com um médico cardiologista, ele irá aferir a pressão arterial do paciente várias vezes, nos dois braços, com o paciente nas posições deitada e sentada. Caso não seja possível estabelecer o diagnóstico de hipertensão arterial, poderá ser necessário a solicitação de um exame do tipo MAPA. (Inserir link para exame de MAPA)

Lembra da jovem senhora de 60 anos do início do nosso texto? Após a avaliação completa se a pressão dela for realmente 150/90 mmHg ela terá hipertensão arterial estágio II. E a próxima preocupação dela será como tratar e como saber se o tratamento está sendo bem-sucedido. E aí vem a nossa próxima pergunta…

O que é pressão controlada?

Diz-se que a pressão arterial está controlada quando as medidas da pressão estão dentro das metas estabelecidas para cada pessoa. Essas metas são calculadas ou estabelecidas de acordo com o risco cardiovascular adicional que a pessoa apresenta.

Como saber o valor ideal na minha pressão arterial?

O valor ideal da pressão arterial para cada pessoa, deve ser avaliado ou como nos médicos dizemos estratificado de acordo com o risco cardiovascular de cada pessoa. Risco cardiovascular é o risco que cada indivíduo tem de apresentar algum evento como infarto ou acidente vascular cerebral ou doença obstrutiva da circulação de sangue nas diversas artérias do corpo.

O médico cardiologista faz uma avaliação completa do paciente, avalia se há outros fatores de risco para doenças cardiovasculares e estabelece as metas de pressão para o paciente. Percebeu que as metas são individualizadas e que não é apenas tomar o remédio? Abro aqui um parêntese para dizer que a automedicação pode ser perigosa e que não substitui uma avaliação médica cuidadosa.

Dessa forma, você já deve ter concluído que uma pessoa hipertensa com diabetes precisa ter uma pressão mais bem controlada do que uma pessoa da mesma idade sem diabetes.

Como lidar com o diagnóstico da hipertensão arterial?

Uma vez que você recebe o diagnóstico de hipertensão precisa ter 3 coisas em mente.

  1. Hipertensão arterial não tratada é uma das principais causas de morte por doenças cardiovasculares no Brasil e no mundo. Reforço aqui que é a Hipertensão arterial não tratada ou não controlada.
  2. Há várias opções de tratamento e junto com seu médico pode ser escolhido um esquema que seja fácil para você inserir na sua rotina.  Alguns medicamentos podem ser utilizados apenas uma vez ao dia e tudo de uma vez. A maioria das pessoas consegue ter uma vida normal com a pressão controlada.
  3. As restrições de dieta no hipertenso são as mesmas que qualquer outro indivíduo deveria fazer desde que nasce. É isso mesmo! Não ingerir excesso de sal, fazer atividade física, ter um peso adequado, não fumar e ter hábitos saudáveis é recomendado para todas os seres humanos!

Sabe a jovem senhora de 60 anos? Após uma avaliação médica cuidadosa ela toma um medicamento por dia, faz caminhadas ao sol empurrando o carrinho de bebê do seu netinho que nasceu. Já está se programando para ter sempre frutas e lanchinhos saudáveis para ele e dessa forma ela ajudará a fortalecer hábitos saudáveis na nova geração da sua família.

Dra. Virginia Braga Cerutti Pinto

Médica cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Atuação médica com foco na recuperação e manutenção da saúde para que as pessoas vivam mais e com qualidade de vida física e mental.

CRM: 117.977 – SP

RQE: 41.829

RQE: 41828

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